Resenha de "O Nome Tatuado" (Jorge Eduardo Magalhães)


 "Super cinematográfico"


Sinopse: Afonsinho é um enfermeiro que sacia seu desejo por outros homens nos banheiros da região da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Até que, em meio à busca por si mesmo entre uma aventura e outra, a procura pelo homem que inspirou uma tatuagem no braço de uma prostituta mudará seu destino e o levará a um confronto com seus próprios preconceitos e traumas.






Não sou uma leitora assídua de livros nacionais. Lapso meu, eu sei, mas como a maioria dos livros que leio vem de parceria, e a maioria das minhas parcerias trazem livros de fora, então eu acabo lendo o que está na boca do povo. Isso não quer dizer que não queira ler a nossa literatura, só que a oportunidade é pouca. Contudo eu costumo agarrar com força quando elas aparecem, e foi assim que aconteceu com O Nome Tatuado, livro cedido pelo autor. 

Nessa história conhecemos um pouco sobre Afonsinho. Um homossexual que está passando por um período complicado da vida, onde tudo está dando certo no emprego, mas o coração anda uma merda. E ele é bem ligado nessa coisa do emocional, sabe? Sempre buscando alguém para se apegar. Sempre trazendo para sua vida pessoas que não tem pretensão de ficar, e isso só por um minúsculo pedaço de tempo que a pessoa dispõe a lhe dar. 

Esse livro não é bem um romance, mas também não é um conto. Diria que com suas 108 páginas e poucos personagens, O Nome Tatuado se enquadraria na categoria de novela. Outro ponto estrutural importante é que vejo a história como se dividida em três grandes segmentos. O primeiro, a apresentação do personagem e do contexto social no qual ele vive, e daí vem uma questão de uma certa fixação que Afonsinho tem por um amor do passado. O segundo ponto diz respeito a um outro fascínio que Afonsinho descobre por um personagem de quem ele não sabe nada além do nome. E o terceiro momento é quando ele se joga numa situação sendo impulsivo, e ainda em busca desse amor eterno. 

Tenho várias coisas para falar desse livro, ainda que seja um livro tão curto. Primeiro é que existe um distanciamento interessante entre o leitor e o protagonista. Mesmo que você esteja ali ao lado, observando suas ações e seus pensamentos, não dá para deixar de criticar certos comportamentos dele. E nem estou falando do lado homossexual, e por vezes muito nojento, que o autor agrega ao personagem. Estou me referindo as atitudes que ele tem em busca de algo que é abstrato, como o amor. Então é fácil se afeiçoar a esse homem solitário, mas também é fácil querer bater com a cabeça dele na parede com a intenção de lhe dizer que está sendo burro e apressado com certas coisas. Acredito que esse distanciamento é interessante por conta da dualidade de sentimentos que você tem ao ler. Inserir-se em demasia nesse enredo irá te levar ao extremo que é Afonsinho, e não sei até que ponto isso poderá ser agradável. 

Outra coisa importante aqui é a facilidade com a qual o enredo te leva de algo leve, para um cena asquerosa. Não é todo mundo que vai ler esse livro sem expressar nenhuma careta. Eu devo ter entortado a boca umas três vezes. Jorge não é um autor que poupa detalhes, ainda que eles causem indigestão. Acho isso legal numa narrativa. Temos mania de usar a arte para camuflar o real da vida, quando é o real da vida que fez alguém pensar na arte. 

Eu tive muita raiva desse personagem em vários momentos. Ele é um poço de impulsividade e faz as coisas mais idiotas em busca de algo em que acredita, por mais infantil que seja. Não é um defeito na criação do personagem, é um defeito na personalidade dele, e isso é incrível de se ler! Em vários momentos me peguei gritando para ele parar de fazer uma merda atrás da outra. O cara vive bem, tem um emprego bacana, pode ir para qualquer lugar, mas nada disso importa quando ele tem uma fixação na frente. É um homem que quando percebe que seu sonho de vida não vai dar certo, pula para outro como se trocasse de roupa. E para isso ele passa por cima de qualquer regra social e de comportamento, chegando a ser absurdo em alguns momentos. Mas posso dizer que foram os defeitos de Afonsinho que me ligou a ele. Foi esse desespero por amor. É como se eu pegasse um  humano implodido e relatasse sua primeira explosão de um modo cru. E isso é a história é... crua. 

Comentei com o autor que vejo o livro dele como um curta-metragem nacional. Ele tem a estrutura para um curta, e segue uma linha de enredo que ficaria incrível no cinema. É bem a cara de filmes brasileiros: Cheio de cutucadas sociais, personagens intensos, amores impossíveis e fatalidades imprevistas. 

Gosto do que Jorge fez aqui. Queria ter lido mais da história do personagem. Me senti meio carente do passado dele, e da família. Sabia como Afonsinho se relacionava com os bêbados da estação, mas não tinha ideia de como era o seio familiar do cara. Claro que não interfere no enredo dessa história, mas queria ter conhecido como um garoto chegou naquele extremo de mendigar atenção a qualquer pessoa só para não estar sozinho. 

Enfim, fica a dica para quem curte esse tipo de livro.