[Filme] Divertida Mente





Sinopse: Riley é uma garota divertida de 11 anos de idade, que deve enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal, no estado de Minnesota, para viver em San Francisco. Dentro do cérebro de Riley, convivem várias emoções diferentes, como a Alegria, o Medo, a Raiva, o Nojinho e a Tristeza. A líder deles é Alegria, que se esforça bastante para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz. Entretanto, uma confusão na sala de controle faz com que ela e Tristeza sejam expelidas para fora do local. Agora, elas precisam percorrer as várias ilhas existentes nos pensamentos de Riley para que possam retornar à sala de controle - e, enquanto isto não acontece, a vida da garota muda radicalmente.

Foi-se o tempo de achar que filmes de crianças eram essencialmente para crianças. Na verdade eu sou da teoria de que histórias infantis sempre serviram para deixar uma lição de vida nos pequenos, mas foram escritas e pensadas por adultos, usando suas próprias ideias de medo e diversão para serem compostas. Então no fundo tais contos são perfeitos para qualquer idade. Filmes infantis podem até ser para crianças, mas servem perfeitamente para o resto de nós. 

Divertida Mente foi um desses casos que comecei a ver sem dar nada pelo filme, e acabei pensando algo do tipo "poxa, que ideia do caramba!". A animação é extremamente bem pensada e tem um dos melhores roteiros para filmes infantis que já vi nos meus 29 anos. Fico pensando em como hoje em dia existe uma intertextualidade profunda por trás de personagens singelos e situações até bobas, como é o caso das daqui. 

A história é básica e não tenho muito o que discorrer sobre ela sem que tire o encanto para quem vai assistir. Mas começamos vendo um bebê recém nascido no colo dos pais, e na cabeça desse bebê o surgimento dos primeiro sentimento: Alegria, representada por uma personagem animada e reluzente que sempre descobre uma forma de fazer com que as coisas fiquem bem. Depois vamos acompanhar o crescimento da Riley, e o acréscimo de outros sentimentos inerentes a personalidade humana: Nojo, Medo, Raiva e Tristeza. Os cinco sentimentos formam uma espécie de organização quase política no cérebro da garota. 

Entender todas as conexões é que complica, e talvez eu não vá conseguir explicar com segurança de que vocês irão entender, mas é como se cada grande evento da vida da Riley criasse uma ilha de memórias "persistentes", do tipo que seu cérebro sempre recorre quando ela precisa acessar um determinado sentimento. Também trabalham com umas bolas, que acumulam os sentimentos da garota durante o dia. Cada pico sentimental gera uma bola, que vira um arquivo dentro da cabeça dela. As importantes são arquivadas em enormes estantes, e as que não são acabam no lixo da consciência, uma espécie de buraco profundo e escuro. 

Como disse, é uma repartição pública comandada por sentimentos dentro do cérebro de cada um. Da mesma forma que Riley tem, vemos que os pais dela também tem. Uma coisa legal a se observar aqui, é que os roteiristas colocam o comando geral do cérebro da mãe com a tristeza, e o do pai com a raiva. Como se fosse comum os adultos terem essa linha, dependendo do sexo de nascimento e das condições nas quais cresceram. Riley é comandada pela alegria, o que é comum nas crianças. E no fim do longa, acompanhamos como seriam as cabeças de diversos tipo de pessoas, e até de animais. 

Quando as coisas saem da sala de comando e vão para os outros pontos da cabeça da Riley, é que o negócio fica maluco e extremamente bom. Passeamos pelas memórias esquecidas, conhecemos amigos imaginários, memórias que sempre retornam do nada a nossa cabeça - como aquelas propagandas com músicas irritantes-, a terra da imaginação, e mais um monte de lugares que sabemos que existem em nossas cabeças, mas que os roteiristas tratam como se fossem reais e organizadas. O abstrato da história tem forma, e enche a nossa cabeça de ideias que talvez antes nem tivéssemos pensado antes. Mas devo admitir que o melhor é o subconsciente. Gente, depois dessa parte do filme eu pirei! Eita negócio bem pensado! 

Não duvido que Divertida Mente entre na lista do próximo Oscar. O roteiro é de fazer babar, e cada personagem tem uma importância crucial na história além de nos fazer rir. As situações entram tanto na cabeça da gente, que nos pegamos pensando se de fato nosso cérebro é uma repartição, e que sentimento o comandaria. Tenho quase certeza de que no meu caso seria a tristeza. O meu filho disse que o dele é a raiva, e agora culpa um ser imaginário cada vez que briga comigo. Eu mereço! 

O nome do filme traduzido ficou bem legal. Atinge o público que precisa atingir, apesar do nome em inglês fazer todo o sentido do mundo. Mas de fato não ficaria um bom nome de desenho para crianças. 

A repercussão do filme anda fraca, e não sei o motivo disso. Não me lembro da última vez que vi um desenho com uma ideia tão perfeita como esse. Pensando bem, acho que igual a esse jamais vi. Não sou especialista em desenhos, mas sei que a grande maioria levanta a emoção das pessoas como artifício de conquista. No caso desse filme o que comanda é a lógica, mesmo que tenha emoções malucas dentro da gente ao assistir. Eu chorei, não vou mentir. 

O filme é bem construído em todo o seu simbolismo. Trata o "vilão" como uma coisa que as vezes é inútil querer se livrar, já que nesse caso o vilão seria a tristeza. Como o próprio longa retrata, as vezes é importante chorar. A alegria vem normalmente da tristeza, e os grandes momentos da vida de Riley vieram após lágrimas,  O tipo de filme que deixa uma mensagem além da lição de vida lógica. Uma maravilha da animação que trata a depressão de uma forma subjetiva que crianças jamais entenderão, mas que tocará bastante os adultos. Putz, nem tenho mais como elogiar esse filme sem parecer piegas. Enfim, assistam, assistam, assistam!