Resenha de "Fragmentados" (Neal Shusterman )

Título: Fragmentados
Autor: Neal Shusteman
Editora: Novo Conceito (Cedido em parceria)
Skoob: Adicionar


Sinopse: Fragmentados - Em uma sociedade em que os jovens rejeitados são destinados a terem seus corpos reduzidos a pedaços, três fugitivos lutam contra o sistema que os fragmentaria .
Unidos pelo acaso e pelo desespero, esses improváveis companheiros fazem uma alucinante viagem pelo país, conscientes de que suas vidas estão em jogo. Se conseguirem sobreviver até completarem 18 anos, estarão salvos. No entanto, quando cada parte de seus corpos desde as mãos até o coração é caçada por um mundo ensandecido, 18 anos parece muito, muito longe.
O vencedor do Boston Globe-Horn Book Award, Neal Shusterman, desafia as ideias dos leitores sobre a vida: não apenas sobre onde ela começa e termina, mas sobre o que realmente significa estar vivo.

Vocês sabem o quanto sou suspeita quando o assunto é distopia. Por pior que ela seja, eu sempre consigo tirar algo de proveitoso. Fico feliz em dizer que Fragmentados tenha sido o livro que me tirou da ressaca infernal que estava, sendo, portanto, um dos livros que conseguiu se enquadrar na categoria de distopias com muitas coisas interessantes para relatar. 

Percebo que o mercado editorial é um mercado de tendências. Numa época em que muitos livros de vampiros faziam sucesso, os editores nacionais trouxeram vários deles lá de fora. E na época em que Jogos Vorazes estourou pelo mundo, outras tantas distopias vieram juntos, como também as tradicionais foram tiradas do canto empoeirado da estante. Pessoalmente não tenho o que reclamar disso, já que sou uma total alucinada pelo gênero. 

No caso de Fragmentados temos uma sociedade que proibiu o aborto - o que é uma coisa ótima, mas que determinou que os pais, a partir dos 13 anos de idade até os 18, podem colocar os filhos para a Fragmentação, que é exatamente o que diz o nome: Eles separam as partes que possam ser doadas de cada um, distribuindo pelos fisicamente necessitados. Não sei como isso pode ser mais humano do que um aborto. 

Dentro dessa sociedade maluca temos os três protagonistas dela. Connor, que sempre foi um garoto problemático e a quem os pais entrega para a fragmentação por isso. Risa, de quinze anos, que viveu a vida inteira num lar adotivo e que é indicada para a Fragmentação para diminuir as despesas do lugar. Por último temos Lev, de treze anos, que já nasceu destinado a ser um dízimo, um donativo para essa fragmentação. Ele é o único que de fato aceitou seu lugar no mundo. 

A vida desses três garotos se cruzam numa estrada, durante um acidente, e eles acabam seguindo viagem juntos, para longe das pessoas que querem fragmentá-los. E depois disso acontecem coisas suficientes para vocês ficarem com vontade de ler esse livro. 

Ok, temos situações que são padrões em distopias juvenis, como uma espécie de atração entre os dois personagens adolescentes. Contudo pelo fato de ter sido escrito por um homem, e homens terem a incrível fórmula de escrever sobre amor sem necessariamente ser um romance, essa parte do livro é extremamente delicada e quase invisível. Os laços que unem esses três vão muito além disso, o que torna a história sobre sobrevivência ser também uma história sobre a luta da sobrevivência do próximo. 

Algo bem bacana aqui é que o livro, mesmo com capítulos alternados entre os principais, também passeia entre outros personagens que muitas vezes só tem uma única aparição, e isso já foi a forma que o autor usou de mostrar essa sociedade pelos olhos dos adultos que trabalham para ela, por exemplo. Achei isso sensacional! Foi o tipo de prova de que as histórias tem o ponto de vista e nos transmite a sensação que o autor quer transmitir. A partir do momento em que você conhece outros lados dela, a coisa ganha uma dimensão absurda. 


O crescimento dos três, principalmente de Lev, é algo delicioso de se acompanhar. O menino começa como um dízimo inocente e se torna quase um mártir entre os fragmentados e futuros fragmentados. O garoto saiu de ser a criatura mais chata do livro para se tornar meu personagem predileto, e isso em poucas folhas. E em nada pareceu forçado por parte do autor. Lev teve motivos para esse crescimento, e isso está explícito durante a jornada dele. 

O livro consegue trabalhar com os temas adolescentes sem fugir da seriedade do que a sociedade está fazendo com eles. Levanta questões religiosas, sociológicas e médicas acerca desse procedimento. Se a fragmentação serve para salvar muitas vidas, é viável que se perca uma no processo? Não é uma morte -na concepção deles - então é uma mudança de nível? Quem morre numa fragmentação, tem a alma repartida também?

Essas questões permeiam a história a todo momento, nos mostrando, inclusive, que os músculos tem memórias e transmite isso para a pessoa que recebe as partes fragmentadas. É uma das descobertas mais interessantes durante a leitura porque isso é repassado brilhantemente através de um determinado personagem que de início não sabemos se é vilão ou mocinho. 

Fragmentados conclui nesse volume. Conclui brilhantemente nesse volume. O final que o autor deu aos três personagens foi digno da minha admiração. Não foi um mar de rosas, e terminou longe de um possível fim para o lance da fragmentação, mas terminou com uma sensação de esperança bem vinda na cabeça desses meninos sem expectativa alguma além de viver o dia seguinte. Foi brilhante por não alisar um problema, e nos motivar a pensar sobre ele. 

Não me pareceu uma série, o que é fantástico! Se o autor continuar a escrever sobre esse mundo vai acabar estragando muitas das mensagens que ele deixou. Para mim estava perfeito. O final tanto dos três garotos, como do tal personagem misterioso que aparece no meio da história, são dignos de cada um. 

É uma ficção, e uma ficção que deve ser encarada como um livro jovem que levanta perspectivas morais interessantes para os jovens. Lembrou-me bastante o filme "Não me abandone jamais", só que com uma pitada maior de esperança. A cena da fragmentação da história é sufocante! 

Recomendo de verdade. Sou suspeita, eu sei, mas sou uma suspeita que sempre vai te mostrar um lado admirável de cada distopia que lê.