Resenha de "Alice no País das Armadilhas" (Mainak Dhar)

Título: Alice no País das Armadilhas
Autor: Mainak Dhar
Editora: Única (Cedido em Parceria)
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Sinopse: O planeta Terra foi devastado por um ataque nuclear, e boa parte de sua população se transformou em Mordedores, mortos-vivos que se alimentam de sangue e, com sua mordida, fazem dos humanos seres como eles.Alice é uma jovem humana de 15 anos que mora no País das Armadilhas, nos arredores da cidade que um dia foi Nova Déli, na Índia. Ela nasceu nessa nova realidade aterrorizante e teve de aprender a se defender sozinha desde cedo.
As coisas mudam quando Alice decide seguir um Mordedor por um buraco no chão: ela descobre a estarrecedora verdade por trás da origem das criaturas e se dá conta da profecia que ela mesma está destinada a consumar — uma profecia que se baseia nos restos chamuscados do último livro encontrado no País das Armadilhas, uma obra chamada Alice no País das Maravilhas .
Uma mistura incomum de mitos, teorias conspiratórias e Lewis Caroll, Alice no País das Armadilhas pode parecer mais uma história de zumbi, mas é uma metáfora instigante de como tendemos a demonizar aquilo que não compreendemos.

O mercado editorial aqui no Brasil é um mercado de tendências. Quando tivemos o "bum" distopias, todas as editoras apareceram com ao menos um livro do gênero. O mesmo serviu para os eróticos, que tomou o mercado de forma absurda. E hoje temos uma leve tendência de recontos de contos de fadas e livros infantis. Tanto em livros como em filmes. É saber que funciona e logo aparecem candidatos a vagas e empresários em busca de títulos que agradem o fã das histórias originais. 

Confesso que não sou muito animada com a ideia desses re-contos. Poucos os que gostei. Tenho o maior preconceito emocional com eles. De alguma forma sinto que estou traindo a história original, principalmente quando sou apaixonada por ela, como é o caso de Alice no País das Maravilhas. 

Contudo quando a Única lançou o livro, eu fiquei maravilhada com a ideia. A proposta era diferente e me atraiu por pura curiosidade, sem contar o trabalho gráfico incrível da editora com esse título. Temos que admitir que a Única é danada para trabalhar bem a parte visual dos livros que publica. 

Enfim, acabei demorando a ler por conta da quantidade de coisas acumuladas que tenho aqui de várias editoras. Quando fui colocar ele na fila, ficou embaixo de outros que já estavam aqui antes. Contudo além dessa problemática comum a qualquer blogueiro literário: Acúmulo de livros, também teve o fato de que não podia sentar para ler o Alice que acabava dormindo. Sério mesmo. Um livro que demoraria dois dias, no máximo, para acabar, levei uma semana inteira. E isso me fez pensar se o problema era comigo, ou com a narrativa do autor. 

A proposta do livro é a seguinte: Temos essa personagem, Alice, que tem todas as características do livro de Lewis Carroll, só que vive em Nova Delhí, a capital da Índia. É uma lutadora incrível e sabe manejar bem uma arma. E isso porque vive em uma sociedade "distópica", que foi destruida por bombas nucleares depois que mortos-vivos começaram a brotar da terra e transformar humanos em mais mortos-vivos. Como zumbis. Eles são chamados de Mordedores. 

Um dia enquanto estava de guarda, Alice vê um dos Mordedores com orelhas de coelho entrando em um buraco no chão, e o segue. É a partir desse momento que a adolescente conhecerá certas verdades que a fará questionar tudo o que lhe foi ensinado a vida inteira enquanto vivia nos assentamentos de humanos, e a verdade sobre esses seres do mal, que de fato tem seu próprio ponto de vista sobre toda essa guerra que supostamente eles iniciaram. 

O negócio é o seguinte... Tem muita coisa que curti nesse livro. A ousadia do autor em criar uma distopia usando Alice como pano de fundo; o fato da história se passar na Índia, quando estamos todos acostumados com EUA; os questionamentos sobre a verdade das pessoas, e de que toda história tem dois pontos de vista. Mainak Dhar me ganhou nesses quesitos, e por isso não achei de todo uma leitura ruim. A personagem também tem uma força bacana, do tipo que gosto nos livros, o que também contou pontos a favor. 

E daí vocês me perguntam qual então foi o problema que me fez tirar duas estrelas do livro, e lhes digo que basicamente se tratou de afinidade a escrita do autor. 

Enquanto eu lia ficava pensando que se ele tivesse escrito esse livro em primeira pessoa, eu teria ficado muito mais ligada a ele do que fiquei. Foi estranho observar os pensamentos e intenções de Alice pelo ponto de vista de um narrador diferente, e isso fez parecer que eu estava lendo um livro escrito por, sei lá... um matemático, de tão seco e distante, e não um homem que já é escritor. Mainak Dhar não funcionou para mim com terceira pessoa. 

A ideia dele para a existência desses Mordedores, embora diferenciada, me pareceu meio forçada e não me convenceu. Foram páginas de uma explicação que no final das contas, pelo menos para mim, não explicou nada. Fiquei mais confusa e achando que aquilo não era desculpa para uma catástrofe mundial. Mas tudo bem, isso a gente releva porque tivemos duas grandes guerras que sinceramente tiveram os piores e mais banais motivos do mundo para que acontecessem. 

A ligação do livro distopico do autor, com o psicótico orginal de Carroll, também não rolou comigo. Entendi a ideia, mas ela não funcionou na minha cabeça. Contudo pode ter sido uma questão de fidelidade com a história original. Não é a primeira vez que leio um reconto de Alice, mas é a primeira vez que me sinto incomodada com um, E não tem nada haver com a distopia, ou os zumbis - vocês bem sabem que adoro os temas! - mas algo na construção dos diálogos, inserção das ideias, personagens e explicações. Parecia tudo surreal para mim, e não surreal ao estilo gatos que desaparecem pela metade e rainhas que cortam cabeças. Surreal no sentido de "a ideia poderia ter sido melhor trabalhada para dar credibilidade a ele". 

Vocês podem afirmar que isso é esperar demais de um livro inspirado no maluco mundo de Lewis Carroll, mas garanto a vocês que eu acreditava muito mais fácil em coelhos com relógios do que zumbis com orelha de coelho. Sem contar o fato da maluca da Alice ter se jogado em uma toca cheia de Mordedores. NO QUE DIABOS ESSA MENINA ESTAVA PENSANDO? 

Enfim, foi um livro que não surtiu muito efeito em mim, e me deixou bastante sonolenta por não conseguir me apegar a personagem nenhum, e nem a escrita do autor. Mas conheço pessoas que super se identificaram com a história e acharam incrível. Para vocês verem que isso é uma questão de gosto. 

Agora é com vocês. <3